quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Primeiro texto agendado da primeira semana de agosto (dãã?)

Texto escrito no dia 27/07/08

Hoje - ou seja: ante, ante, ante(...)ontem, que é quando vocês vão ler isso - eu fui num tipo de concerto de música clássica.
Ah, eu sei que parece chique, mas na verdade é uma coisa bem natural por aqui.

Bem, como vocês devem saber (ou não, sei lá) eu estou (estava?) na casa dos pais do meu padrasto. Apenas e eu e o meu irmão. Nós ficaremos (ou ficamos?) aqui uma semana. No sábado voltamos pra casa.

Mas enfim, o concerto era grátis, aconteceu numa pequena igreja da cidade, que não ficava muito longe, então fomos a pé. A igreja era relativamente simples. Apenas três janelas, e uma única com vitral. O tamanho era um pouco maior do que uma quadra de basquete, tinhas umas quatro velas de tamanhos variados numa mesinha no canto, uma escultura pregada na parede, de um querubim, totalmente cinza. Atrás dos músicos, estava uma escultura um pouco maior, bem colorida, representando a Santa Ceia, ou algo assim. E havia um cheiro de cimento em pó no ar.
Alguém adivinha a idade da igreja? Nada menos do que 300 anos mais velha do que o Brasil!!!

Assombroso né? Como é que pode uma igrejinha num pequeno bairro que pertence a uma cidade (também pequena) ter essa idade? Como é que uma construção pode durar tanto tempo, sem nenhum risco de desabamento, nenhuma pichação, nenhuma marca de vandalismo?
Lembrei agora de Brasília. Aquela cidade tem o quê? Meio século de vida? Como é que já esa virando um caos?

Mas, voltemos pro assunto principal:

Eu nunca tinha ido a uma orquestra antes. Não que eu me lembre, pelo menos. Na verdade eu nem gosto muito de música clássica.

O número total de músicos...ok, uns 20, ou 25. Eu diria que três-quintos eram mulheres. E todos os homens usavam uma dasquelas camisas brancas de manga comprida, que esqueci o nome. Bom, que qualquer forma, todos já haviam passado dos quarenta. A mulher mais jovem que eu vi (que, por algum motivo, achei ter algo parecido com ela) devia ter um 45, mais ou menos. Aliás, eu e o meu irmão éramos as únicas crianças/adolescentes que eu vi por lá. Todas as outras pessoas tinham cabelos grisalhos ou pintados, usavam óculos ou lentes, saias floridas ou calças lisas. Achei aquilo meio injusto: porque ninguém mais da minha idade se dedicava a passear um pouco com os avós? Porque ninguém tinha que ouvir um pouco dessas músicas que com certeza iriam me dar sono? Será que estavam todos na piscina? Por que eu não estava lá também?

Tive que parar com meu devaneios quando o maestro chegou. Eram umas 5 da tarde e o sol entrava com toda a força pela janela direita. Só que por algum motivo a temperatura estava amena. Ótimo, talvez se eu pegasse no sono, poderia dar a desculpa de que estava "um friozinho delicioso pra dormir".

Bem, quando eu estava pronta pra fechar os olhos, o maestro virou-se para nós e disse alguma coisa que fez todo mundo rir. Eu não prestei atencão e quando ia perguntar "was?", ele disse que estava muito orgulhoso de estar fazendo outra apresentação nessa igreja (ao que parece, esses concertos aconteciam há cinco anos, três vezes por ano). Ele também disse que era bom ver novos rostos por lá (e olhou pra mim e pro meu irmão. Sorri pra ele) e que esperava que todos gostassem da música. "A cada mês cheio de problemas e preocupaçoes" - disse ele - "uma hora de música clássica é o bastante. Claro, espero que vocês não tenham tantos problemas assim..mas de qualquer forma, vamos tocar, minha gente!"

Ele virou-se para a orquestra e ele tocaram Präludium, Sarabande e Gavotte. Todas sinfonias compostas Edvard Grieg, que nasceu em 1843 e morreu em 1907 (nããão, eu não tenho a menor idéia de que seja esse tal Grieg! Estava tudo num panfleto que peguei na entrada e fiz questão de guardar comigo até agora).

Eu achei interessante a concentração dos músicos. Aquela mulher que eu achei parecida comigo (sei lá porquê), por exemplo: quando era uma estrofe triste, as sobrancelhas dela se uniam e inclinavam-se pro alto. Quando era uma estrofe alegre, ela até sorria (e isso deve ser muito difícil, sendo que ela tinha o queixo apoiado num violino).

Depois tocaram mais algumas músicas e aí entrou o, digamos, o "artista solo". Era um homem lá na casa dos 60, segurando um violoncelo (bom, acho que o nome não é bem esse, mas era uma espécie de violino gigante, deixa quieto). Ele usava uma camisa branca, mas não igual as dos outros, era algo meio hippie. E tinha as sobrancelhas juntas e o cabelo longo e grisalho todo penteado pra trás. Parecia um daqueles vilões charmosos de novela das oito, que a minha avó lá de Belo Horizonte, tanto gosta.

O maestro fez uma "breve" apresentação do cara. Pelo que parece, se chamava Cello, já havia se apresentado em outros 6 países, sendo que um deles era Togo, na África. Lugar onde uma amiga minha nasceu. Aliás, parece que quado ele se apresentava em Togo, alguém ligou pra ele durante uma pequena pausa no show e disse que a sua mulher, láááá longe (ou seja, aqui na Alemanha) estava perto de dar a luz à filha deles, e estava tendo algum problema. Era melhor que ele fosse pra casa. O que o homem fez? Encurtou o show, pegou o primeiro avião em direcão à Europa que viu, e chegou quatro horas mais cedo do que o esperado.

Uns três anos mais tarde, enquanto tocava na França, avisaram novamente que a sua esposa estava tendo um outro problema. Dessa vez, com um menino que ia nascer. E lá foi o Cello apressar o show para poder ir pro hospital à 200 quilômetros de distância.

As duas crianças estão bem, saudáveis e crescidas. Depois dos suspiros de alívio do público, incluindo até um do meu irmão, o maestro disse que poderíamos ficar tranqüilos: nenhuma criança ia vir ao mundo dessa vez, então o espetáculo ia cumprir o prazo prometido. Mais risadas. A minha era uma delas.

Depois disso, foi tudo bem. O Cello tocava de um jeito muito legal, balançando a cabeça pra frente e pra trás a cada dó maior, e o resto dos músicos estavam bem alegres.
Até que o maestro (sempre ele!) virou-se pra nós e disse que íamos ajudar a encerrar o último número. Ele bateu palmas num ritmo rápido e fácil de decorar, depois pediu-nos pra fazer o mesmo. Foi perfeito! Ele riu e explicou o que deveríamos fazer. Cada vez que ele levantasse o braço pro alto, mostrando o polegar e o indicador, nós bateríamos as mãos. Depois de um rápido ensaio nós tocamos a música de verdade, que durou uns cinco minutos.

Uma pequena pausa 2 minutos depois do primeiro acorde:

O maestro disse que estava muito bom. Quem sabe a gente não cantava da próxima vez?

Continuando...

Ora eram os violinos que tocavam, ora era uma moça oriental com o oboé, hora era flauta e depois o tal do violoncelo. Depois as palmas. Depois mais violinos. Aí era tudo junto. Até que os músicos pararam, e só restaram as palmas. Aplaudindo. Gargalhando. Assobiando.

Isso durou mais um bom tempo. Depois fomos pra casa.

E eu descobri que gosto de música clássica, no fim das contas.

3 comentários:

Lucas disse...

Esse post foi meio que uma fic, pelo que parece... Fo bom de qualquer jeito. Até mais!

Amanda Marina ♥ disse...

Que legal \o/
Nunca me imaginei nessa situação... mas deve ser massa !
Bme legal o seu dia, e...300 anos...nossa um "pouquinho" mais velha que eu!
Huashuas'
Beijos*

Carol Juvenil disse...

Laurinha,olha o que eu escrevi no meu "diário" na comunidade do grupo(no Orkut) em 21/06/08:
Antes de se ouvir música clássica,ela parece uma coisa distante e que nunca se conhecerá.Parece que quem ouve-as é de outro mundo e possui algo especial.

Depois que comecei a ouvi-la,ela passou a ser simplesmente música.É doce,é mágica e especial.É só música!Não sou menos do que ela,e percebi que todos devem ouvi-la,porque ela é simples e bonita.Não é algo etéreo,é de todos nós.

É só música,caramba!


Entendo exatamente o que você sente.